quarta-feira, 10 de novembro de 2010

As verdades e as meias verdades sobre as eleições em Candeias


Por Profº Hamilton F. de Assis*

O tão esperado dia 03 de outubro chegou, e já se foi. Muitas surpresas: positivas para alguns e extremamente negativas para outros.

Candeias teve uma verdadeira reviravolta no cenário político: quem tinha mandato deixou de ter; quem se arvorava eleito deu uma de peru de natal (morreu de véspera); e de onde muitos não esperavam nada, veio a vitória...

O processo foi complicado: muito barulho nas ruas (nada de fiscalização com relação aos carros de som), panfletos, santinhos e toda sorte de papéis emporcalhando as ruas; troca de acusações, promessas, etc. No dia da “onça beber água” o que não faltou foi crime eleitoral: boca de urna sendo feita escancaradamente em boa parte da cidade, mesmo após a polícia ter feito o maior estardalhaço prometendo punir rigorosamente. Aliás, presenciei diversos crimes eleitorais (inclusive boca de urna) sendo realizados a menos de 15 metros de distância de muitos policiais, que faziam de conta que não viam nada.

Também teve candidato desfilando em carro aberto na manhã do dia 03 de outubro, cantando, buzinando e jogando santinho para todos os lados. Em frente ao Colégio Professor Dásio tinha até caminhão baú plotado com propaganda eleitoral estacionado bem na frente (outro detalhe é que o referido caminhão tinha placa vermelha).

Dentro de muitas sessões havia bastante bagunça: filas que se misturavam, identificações mal feitas (o número das sessões foi colocado de caneta, dificultando a identificação), faltavam agentes/fiscais do TRE para dar orientações, esclarecer dúvidas, enfim, um verdadeiro “Deus nos acuda”...

Após o resultado das urnas, a corrida pelo ouro em 2012 (ou melhor, por uma boquinha na Prefeitura ou na Câmara Municipal) se intensificou. Muita gente está enchendo seus balões de ensaio de ar, na tentativa de causar impacto, de deixar uma boa impressão, pois acreditam que assim conseguirão reunir aquilo que é necessário para conquistar o apoio de alguns tradicionais caciques politiqueiros do município.

Mas vamos às verdades e às meias verdades destas eleições...

A gritaria e a choradeira foi geral. O que não faltou foi desculpa de tudo quanto foi lado para o fraquíssimo desempenho eleitoral dos candidatos da cidade (exceção feita ao Pastor Sargento Isidório, que conseguiu se eleger). A desculpa que tem sido entoada como se fora um mantra é de que a culpa é da Prefeita. Explico: dizem que em virtude da administração municipal ser uma lástima, o eleitorado de Candeias ficou descrente e os demais políticos é que estão pagando o pato.

Seria cômico se não fosse trágico! Fico a me perguntar se o quadro não seria outro se esses mesmos políticos que agora choram tivessem feito uma oposição eficiente. Me parece que a eles faltou fazer o dever de casa, ficar ao lado do povo. Tirar a responsabilidade da derrota acachapante das próprias costas e colocar nos outros é muito fácil. Continuem assim e seguirão ladeira abaixo...

A família Magalhães conseguiu uma proeza: Preto Magalhães consegui obter 151 votos para deputado estadual sem fazer campanha. Em compensação, Tonha Magalhães e Júnior Magalhães amargaram um fiasco e perderam seus mandatos. Já se esperava que Júnior ficasse sem mandato: na coligação em que estava só um milagre para garanti-lo por mais 04 anos. Já no caso da Deputada Federal Tonha Magalhães a coisa é mais complexa. Muitos defendiam que ela iria conseguir aumentar sua votação, na comparação com as eleições de 2006. Naquele pleito ela obteve 13.436 votos em Candeias e um total de 78.034 votos na Bahia inteira. Desta feita ficou nos 12.926 votos em Candeias e fez um total de 43.127 votos no estado: uma queda para lá de acentuada (perdeu cerca de metade dos votos). É, meus amigos, é muito difícil ser fenômeno de votos sem o uso da máquina pública!!

Aliás, falando em máquina pública, se alardeou bastante que o filho da Prefeita (o candidato Diego Maia – PMDB) tinha todo o apoio do seu partido, que os secretários da Prefeitura de Candeias o estariam apoiando e que teria uma expressiva votação. O que se viu não foi bem isso: na reta final o nome forte de seu partido (Geddel Vieira Lima) participou da carreata de seus adversários políticos; também teve secretário fazendo campanha para outros candidatos e, segundo se comenta, comemorando a derrota; e a expressiva votação realmente foi super significativa: 3.389 votos em Candeias (número inferior aos chamados “cargos de confiança” da administração municipal) e míseros 11.634 votos em todo o estado. Esse não conseguiu ir muito longe, nem com a máquina... Aliás, os candidatos que fizeram dobradinha com ele tiveram votações pífias aqui na cidade (Lúcio Vieira Lima, Coronel Santana, Noel Pedreira, Leonardo Dias, etc).

Quem surpreendeu foi o polêmico Nery Vendedor (PT do B), que ao contrário do que muitos esperavam, totalizou 1.075 votos em Candeias, tendo um total de 2.323: nada que o leve a soltar foguetes, mas dentro do município ele obteve um desempenho bem acima do que os “entendidos da política” previam.

Já o professor, historiador, escritor e advogado Jair Cardoso (PDT) deve ser analisado com um pouco mais de atenção. Muitos dizem que foi vitorioso, mas vamos avaliar com um pouco mais de cautela: em 2006, quando concorreu a deputado federal, obteve 7.933 votos em Candeias, totalizando 10.398 votos em todo o estado. Desta feita, Jair conseguiu assegurar 7.712 votos em Candeias e 9.520 votos na Bahia inteira.

Alguns detalhes devem ser considerados. Em Candeias ele manteve-se com a mesma margem de votos, mas teve uma pequena queda no estado. Se levarmos em consideração que nas eleições de 2006 ele praticamente não fez campanha (foi apenas 01 mês com um reduzido grupo de amigos e sem recursos), e que nesta oportunidade reuniu um grande grupo, fechou com algumas lideranças expressivas, teve apoios importantes (Rilza Valentim e João Leão, por exemplo), e fez campanha desde o período pré-eleitoral, começo a questionar se o resultado foi mesmo bom ou se é motivo para que seus seguidores comecem a se preocupar...

Sargento Isidório (PSB) foi um caso a parte. Reunindo apoios importantes (Jaques Wagner, Pinheiro, Walmir Assunção, etc), usando o marketing que já lhe é peculiar e contando com a projeção que lhe foi dada pelo trabalho desenvolvido à frente da Fundação Dr. Jesus, teve sua campanha coroada de êxito: obteve 5.585 votos em Candeias, somando um total de 46.963 em todo o estado. Foi o mais votado de seu partido, único eleito, mesmo tendo tido uma série de problemas com a legenda. Agora é esperar se vai repetir os erros do passado, encontrar novos erros para cometer ou se finalmente amadureceu voltará a crescer dentro da cidade.

Quem deve ter motivos de sobra para estar preocupado é o Vice-Prefeito, Loteba (PT), que amargou uma derrota fragorosa. No pleito passado (2006) ele tinha conseguido 4.356 votos em Candeias, totalizando 10.730 no estado. Agora ficou com míseros 2.098 votos em Candeias e 6.550 em todo o estado. A queda no desempenho foi impressionante. Muitos questionam como ficará a direção do PT em Candeias a partir do resultado desta eleição, uma vez que o partido foi extremamente bem votado na cidade, mas Loteba teve um desempenho desastroso.

Dos demais candidatos de Candeias já se esperava o desempenho que tiveram: Valdemar Horta (PRB) 591 votos na cidade e 1.930 no estado; Noel Pedreira, o popular Noel do Cantagalo, 407 votos em Candeias e 644 votos na Bahia; Leonardo Dias (que quase não é visto e teve alguns problemas em sua candidatura) obteve 312 votos por aqui e arrebanhou 618 no estado; Rubens Testa (PC do B) conseguiu 115 votos em Candeias e totalizou 327 votos no estado.

Enfim, o povo de Candeias mostrou que não adianta mais entoar o discurso de que é filho da terra para conseguir se dar bem nas urnas. Mais do que isso, é necessário que o candidato mostre trabalho e desça do pedestal onde normalmente se encontra para estar ao lado do povo, todo o tempo, e não apenas no ano da eleição.

Tudo indica que teremos uma reviravolta nos partidos políticos de Candeias: já virou tradição a revoada/reorganização dos partidos após os resultados da eleição. É a hora do troca-troca, dos “políticos cangurus’.

Lembro a você, pretenso candidato (a), que o povo está atento: veja bem o que fará ao longo dos próximos dois anos para não voltar a chorar ao final da próxima eleição...

* O Profº Hamilton F. de Assis é cientista social, educador e pós-graduando em gestão de pessoas.






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